Contos

Terroxoxô
Era uma mulher casada e dizia a toda a gente que o marido gostava muito dela e que se ela morresse o marido não casava com outra. E uma vizinha dizia-lhe que não, e tanto, tanto que a vizinha uma vez disse-lhe:
- Olhe, vossemecê finja-se morta e depois há-de ver.
E assim foi. O marido veio para casa e encontrou a mulher morta.
E a vizinha veio logo a correr e disse ao homem que não lhe desse fezes que ela arranjava tudo. E puseram a mulher no meio da casa e a vizinha disse-lhe assim:
- Olhe vizinho, eu não posso cá passar a noite mas mando para cá a minha filha para lhe fazer companhia para o vizinho não ficar só.
E fez uma cama para a filha ao pé da cama dele. E o homem foi-se deitar primeiro e a vizinha mandou a mulher dele deitar-se para lá e o homem julgava que era a filha da vizinha.
E ele pela noite adiante, e deu-lhe vontade e pôs-se a urinar e ele então dizia-lhe assim:


- Ai minha alma, meu serafim
Que até no mijar fazes terlintintim;
Que a outra que o diabo levou
Quando mijava fazia terroxoxô.


E a mulher acendeu a luz e deu-se a conhecer e só assim é que ela ficou sabendo o que os homens são e bendito louvado conto acabado.


Bernardino Barbosa,
Contos Populares de Évora


Terroxoxô


Era uma vez uma mulher casada
dizia que o marido a adorava
se ela morresse ele nunca iria casar
nem outra mulher  voltaria a amar.

Uma vizinha bem lhe dizia
que isso era tudo uma fantasia,
o marido não a adorava
e em podendo até a matava.

Um dia o marido  a casa chegou
e nesse instante ali encontrou
a mulher esticada como morta
branca e caída atrás da porta.

A vizinha não tardou a chegar
mas avisou logo que não podia ficar
mandaria para lá a sua filha
sabendo que ela era uma maltrapilha.

A vizinha fez uma cama no chão
e nela colocou um colchão
dizendo que era para a gaiata se deitar
e aquele homem assim enganar.

Afinal quem se deitou
foi a mulher que sempre o amou
e quando pela noite adiante
lhe deu uma vontade deselegante,
ela levantou-se e ele disse-lhe assim:

- Ai minha alma meu serafim
que até no mijar fazes terlintintim;
Que a outra que o diabo levou
Quando mijava fazia terroxoxô.

A mulher apareceu ali ao lado
e deixou o marido acabrunhado.
Bendito louvado
conto acabado!

Alexandra Mamede
Ana Cruz
Carolina Escada
Margarida Franco
Maria Padrão
6ºB




A velha da cabaça

         Era duma vez uma velha e a velha tinha uma filha. E a filha, um dia, casou-se e convidou a mãe para ir às bodas. A velha foi, mas quando ia lá pelo meio do campo encontra um lobo que ia para a comer:
         - Ãe, velha, que te como!
         A velha, com o medo, do que se havia de lembrar?
     - Ai, senhor lobo, não me coma agora que levo a barriga despejada, que eu vou ao casamento da minha filha e venho mais gorda por causa dos ensopados e então é melhor: o senhor lobo espera aqui por mim, que eu hei-de por aqui passar e ao depois come-me então.
        E o lobo ouviu aquilo e deixou-a ir.
        E a velha foi às bodas; ora comeu, bebeu, muita festa, mas depois de tudo, diz para a filha:
        - Ai filha, como há-de ser isto agora, que eu se vou para casa vem um lobo e come-me!
       E contou à filha tudo o que se tinha passado. Diz-lhe a filha:
       - Olhe, mãe, não lhe dê fezes, pegue lá nesta cabaça e leve-a e quando for a chegar lá ao pé do sítio aonde está o lobo, mete-se dentro, que ele não a vê.
       Dito e feito, e a velha lá abalou para casa mais a cabaça.
       Foi andando, andando e quando já lá ia a chegar aonde havia de estar o lobo, meteu-se na cabaça e foi a rebolar por ali adiante.
       Lá o lobo estava à espera a ver quando a velha vinha: nisto, quando ele vê passar aquela cabaça e vai e pergunta-lhe:
       - Ó cabacinha,
       tu não viste por aí uma velhinha?
       E a velinha sempre a rebolar
       - Eu cá não vi
       Nem velhinha, nem velhão,
       Curre, curre, cabacinha,
        Curre, curre, cabação.
Bernardino Barbosa,
Contos Populares de Évora




                                                        A velha da cabaça


Era uma vez uma velha
que era mãe de uma fedelha.
A gaiata decidiu casar
para a velha descansar.
No feliz dia das bodas
iam servir muitas açordas.
A mãe, cheia de larica,
vestiu-se como se fosse rica.
Encontrou um lobo no caminho
com quem falou de mansinho.
«Estás mesmo boa pr'a matança!
Vais direitinha para a minha pança.
Hoje é dia de comilança!»
«Não me comas, não me comas
que eu tenho um casamento,
quando eu de lá voltar
estarei pronta p'ró teu jantar!» 
Comeu, bebeu e dançou
tanto que até se fartou. 
Mas tinha um encontro marcado
com aquele lobo malvado.
Contou à filha as fezes que sentia
só de pensar no lobo, que temia.
 A filha disse-lhe assim:
«Olhe, mãe, não se apoquente, 
pegue lá nesta cabaça e leve-a, sabe para quê?
Quando for a chegar lá ao pé do sítio aonde está o lobo, 
mete-se lá dentro, que ele não a vê.»
A velha ao regressar
meteu-se a rebolar.
O lobo ao ver aquilo
ficou um pouco intranquilo:
       «-Ó cabacinha,
       tu não viste por aí uma velhinha?»
 E a velhinha sempre a rebolar:
      « -Eu cá não vi
       Nem velhinha, nem velhão,
       Corre, corre, cabacinha,
         Corre, corre, cabação.»
Bem dito louvado
conto acabado!
Filipe Zambujo
Filipe Barradas
Pedro Santana
Rafael Costa
6º B

O galo

         Uma vez, era um galo. Andava a esgravatar numa estrumeira e achou um vintém, e depois, ah! lembrou-se de o ir levar à Rainha. Bem meteu-se a caminho. Foi andando, andando, para ir levar um vintém à Rainha. E, quem havia de encontrar no caminho? O lobo. E diz-lhe assim:
         - Ai, compadre galo, tão bonito! Eu agora como-te.
         - Ai, não me comas, que eu vou ver a filha do nosso Rei, e vou lhe dar um vintém que aqui trago.
         - Então assim, olha, põe-te aqui no meu rabinho, e fecha a porta com um pauzinho.
         Ele entrou lá para dentro. Bem. E foi andando, outra vez, andando, andando, lá mais em frente, e o que havia de encontrar? Uma raposa. A raposa:
         - Ai, compadre galo, tão bonito! Eu agora vou-te comer.
         - Oh, comadre raposa não me comas, porque eu vou à da filha do nosso rei e então não me faças mal.
         - Então deixa-me ir contigo.
         - Então olha, põe-te aqui no meu rabinho e fecha a porta com um pauzinho.
         Bom lá se meteu também a raposa.
         Mais p'ra frente andando, andando, por aqueles caminhos fora, ah, o que havia de encontrar? Uma ribeira cheia de água. E ele para passar, não conseguia (e a ribeira tudo dantes falava). Dizia-lhe assim:
         - Ai, compadre galo, eu agora mato-te aqui afogado.
         - Ai, não me mates porque eu vou à filha do nosso rei.
         - Então olha, deixa-me ir contigo.
         - Então olha, põe-te aqui no meu rabinho e fecha a porta com um pauzinho.
         Ah, começou a caminhar a mesma, lá mais em frente encontrou um enxame de abelhas:
         - Ai, compadre galo tão bonito, eu agora, mordemos-te todo, e vamos comer-te.
         - Ai, não me faças mal, que eu vou lá levar um vintém à filha do nosso rei. Então olha, põe-te aqui no meu rabinho e fecha a porta com um pauzinho.
         Bem, já estava tudo lá dentro, e ele foi andando para frente e já encontrou logo o palácio da rainha.
         Bom, começou lá no meio da rua, começou a cantar, tão bonito, cantava tão bem.
         - Ai, o galo tão bonito - disse logo as pessoas que lá estavam. Os empregados para apanharem o galo, porque o galo era muito bonito, e então:
         - Ai, e agora onde é que a gente o vai pôr?
         - Olha vai dormir com os cavalos, com as éguas, com as mulas, vá. Bem, lá encerraram-no lá. De noite, sai de lá o lobo, matou os cavalos, deu cabo deles. Foram lá de manhã ver o galo, estava tudo estragado, tudo morto.
         Depois, diz assim:
         - Ora, esta noite já ficas do outro lado. Esta noite ficas junto com as galinhas, outras matou-as. Tudo mal.
         Bem, já não estavam a gostar muito do galo, depois, diz assim:
         - Oh!, hoje onde é que a gente o vai pôr?
         Estava a água de cozedura, tinham o forno a arder, e agora disseram assim:
         - Ai, a gente agora põe-no aí dentro do forno, que ele pode morrer aí queimado.
         Assim salta de lá a ribeira de água, apagou o forno todo.
         Ao depois, ah! já não davam conta do galo, não sabiam o que lhe haviam de fazer. Estava lá uma velhinha, e disse assim:
         - Oh, ponham-no lá aí dentro do penico, que eu agora vou-lhe fazer chichi para cima.
         Ela foi, sentou-se, sai de lá as abelhas.
         A esta hora estão as abelhas todas agarradas ao rabo da velha.
         Bendito e louvado conto acabado.
Informador, Luísa Siquenique; coletor, Cláudia Cardoso
in Contos Populares de Évora, Mértola e Idanha-a-Nova



Que história esta que fomos desencantar
É estranha, longa e difícil de contar!
Mas como não somos miúdos de desistir
Trocámos-lhe as voltas para a resumir!


O galo


Era uma vez um galo
que estava a esgravatar
tanto esgravatou
que uma moeda encontrou
decidiu ir levá-la à sua rainha
que, por acaso, era sua vizinha.
Pelo caminho várias feras enfrentou
e todas o queriam matar
dizendo estas palavras
a morte conseguiu adiar:
«Ponham-se no meu rabinho
e fechem a porta com um pauzinho.»
Continuou a andar pr'a frente
até que conseguiu ouvir gente,
era o palácio da rainha
a quem ia entregar a moedinha.
Mal os criados viram o galo
chamaram-lhe logo um regalo,
guardaram-no junto do gado
para, de manhã, o comerem cozinhado.
Durante a noite o lobo saiu
matou os cavalos
e pela porta fugiu.
Na noite seguinte a raposa saiu
matou as galinhas
e pela porta fugiu.
O próximo perigo a enfrentar
era a água do lume
 que estava a escaldar.
Logo saltou a água do ribeiro
apagou assim o fogo inteiro
deixando tudo num chiqueiro.
Veio de lá uma velha
com vontade de urinar
e dizia que assim
o galo iria acalmar.
Vieram então as abelhas
para o nosso galo salvar
deram-lhe tantas picadelas
que ela abalou a gritar.
E finalmente, bendito, louvado,
conto, felizmente, acabado!


Alexandra Mamede, Ana Santos, Ana Cruz, Carolina Escada, Filipe Zambujo, Filipe Barradas, Henrique Ramalho, João Frango, Manuel Canudo, Maria Padrão, Margarida Franco, Pedro Santana, Rafael Costa - 6ºB


 
Padre-Mestre Sem Cuidados

Um padre uma quinta tinha,
E no portão um letreiro dizia:
Padre-Mestre Sem Cuidados;
O rei foi caçar,
E mandou-o chamar.
E então lhe disse:
Se és um Padre-Mestre Sem Cuidados,
Tens de me dar alguns cuidados:
Tens de achar quanto pesa a terra;
Em que é que estou a pensar;
E quanto é que eu valho.
Um moleiro o conhecia,
E a ele o ajudou;
E em vez de o padre ir o moleiro assim foi;
E lhe disse tudo o que ele pediu.
E o rei lhe deu um moinho,
Por ele tão esperto ser.

No final o Padre-Mestre Sem Cuidados,
Ficou muito contente.

E bendito louvado conto acabado!

João Geadas, nº 11, 6º D
2011/12


A velha da faveira

Era uma velhinha muito pobrezinha
Ia andando e uma fava achou
Semeou-a no quintal e subiu, subiu
E ao céu chegou.
E da lá S.Pedro lhe disse
Que queres “ó velhinha!”
Aí! S.Pedro eu só queria
Uma esmolinha.
Então toma esta toalha
Em querendo comeres diz assim:
Estende-te toalha!
E esta toalha te vai dar de comer até ao fim.
Domingo a velha foi à missa
Com medo que lhe roubassem  a toalha
Deixo-a à  vizinha dizendo:
Não diga estende-te toalha!
Mas a vizinha morta de curiosidade
Disse as tais palavras
E a toalha se estendeu
E muito comer lhe apareceu.
Antes da velhinha regressar
Outra toalha
Tratou de arranjar
Para quando a velha viesse lhe dar.
Velhinha com muita fome
Disse “estende-te  toalha”
Mas a toalha não se entendia
E o comer não aparecia
Então subiu outra vez à planta
Disse o que se passava
E desta vez S.Pedro deu-lhe uma bolsa
Que muito dinheiro lhe dava.
Ela domingo foi outra vez à missa
Deixou a bolsa em casa da vizinha e disse
Não diga abre-te bolsa!
Mas a vizinha fez tal malandrice.
Arranjou outra bolsa
E à velhinha lhe deu
Esta disse “abre-te bolsa”
Mas nada apareceu.

Subiu de novo à planta
E a S.Pedro contou o sucedido
Este deu-lhe uma varinha que desandava
E nada fez para não ver o plano perdido

Domingo deu a varinha à vizinha
Mas disse “não diga desanda varinha”
A vizinha não ligou e disse tal coisa
E quando essa disse aquilo, apareceu a velhinha.
A velhinha pediu a bolsa e a toalha
E a vizinha lhas deu
Assim tudo acabou
E a velhinha a S.Pedro agradeceu!
Bendito louvado, conto acabado!
                                                                     
Gonçalo Rosado   
6ºD nº8